O Tempo - Cadernos Especiais

Sunday, October 02, 2005

O Tempo da Terra

Especialista exemplifica formas de preservação da água

Júnia Leticia

A conscientização sobre a importância da preservação da água para a manutenção da vida levou órgãos como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater/MG) a adotar projetos de preservação dos mananciais. Os órgãos mostram que com técnicas simples é possível conservar e recuperar as águas.

Para se executar as técnicas de preservação, o coordenador técnico da Emater, Maurício Fernandes, diz que é necessário primeiramente conhecer os tipos de mananciais existentes. “Há os superficiais, que são os córregos, ribeirões e rios, e os subterrâneos, representados pelos aqüíferos (lençóis) freáticos e aqüíferos profundos”, esclarece.

Segundo o técnico, as águas superficiais são as mais vulneráveis à poluição por resíduos químicos e contaminação por microorganismos causadores de doenças. “A origem dos aqüíferos superficiais são as nascentes, quando as águas subterrâneas afloram à superfície”, conta Fernandes.

Para se ter uma nascente com uma vazão permanente, o técnico ressalta que é necessário que essas águas sejam recarregadas. As principais fontes de recargas são as várzeas, os topos dos morros e as chapadas. “A nascente desaparece quando o nível da água subterrânea está abaixo do ponto de surgência, ou seja, de saída para a superfície”, observa.

Uma das técnicas utilizadas pela Emater para conservar os mananciais consiste no cercamento do olho d’água – local onde se verifica o aparecimento de água por afloramento do lençol freático – em um raio de 50 metros, conforme o código florestal. “Outra medida é manter a vegetação ciliar, ou seja, aquela que fica às margem do curso d’água”, esclarece.

A erosão, processo de desprendimento e arraste acelerado das partículas do solo causado pela água e pelo vento, é outro fator que compromete a qualidade das águas. Segundo Fernandes, essa terra, quando arrastada pela enxurrada, depositada-se na parte baixa dos rios e ribeirões, assoreando o canal do curso d’água. “Para esses caos, é necessário a adoção de certas medidas, como manter a cobertura vegetal do solo”, exemplifica.

Outra técnica utilizada é o plantio de nível, quer dizer, efetuar a plantação em sentido contrário ao curso da enxurrada. “Também é importante que cada unidade da paisagem seja utilizada dentro de sua aptidão. Se a terra tem capacidade para o reflorestamento e nela é plantada vegetação diferente da que pode receber, o solo fica exposto e sua capacidade comprometida”, exemplifica.

Fernandes ressalta que na hora de se planejar o uso e a ocupação de uma área, é imprescindível que a capacidade de suporte seja levada em conta. “O solo pode não absorver a água, seja no campo, quando a agricultura é mal manejada, ou em centros urbanos, nos quais o asfalto impede o escoamento das águas”, finaliza.

Técnica mineira é premiada com Minas Ecologia

Uma parceria entre o escritório regional do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF/MG) em Poços de Caldas, no Sul de Minas, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater) e o departamento de água e esgoto da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas em prol da preservação e manutenção das águas resultou nos Planos de Manejo Integrado de Sub-bacia Hidrográfica do Ribeirão Ponte Alta, do Ribeirão Vai-e-volta e do Ribeirão Várzea de Caldas. A eficiência das técnicas utilizadas renderam o Prêmio Minas Ecologia 2003, conferido pela Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda) e pelo Centro Universitário Newton Paiva.

“Trabalhamos com projeto de manejo integrado de bacia hidrográfica a partir de três sub-bacias dentro do município”, informa o engenheiro florestal e gerente do núcleo de floresta, pesca e biodivesidade do IEF de Poços de Caldas, .Edimilson Ferraz Ele acrescenta que para a realização dos trabalhos foi feito um estudo em que foram utilizadas plantas fotográficas de toda as nascentes e córregos. “Demarcamos, ao longo das estadas vicinais, caixas de contenção de água pluvial. Essas caixas servem para que as águas que caem em um determinado ponto fiquem armazenadas, infiltrando no solo e alimentando o lençol freático”, esclarece.

Uma das medidas adotadas no plano foi o cercamento das bacias. “Para isso, utilizamos um mourão de eucalipto e arame farpado para que os animais não destruíssem a vegetação”, diz Ferraz. Composta de mudas nativas e frutíferas, a terra é adubada e irrigada, protegendo, assim, as nascentes de erosão e assoreamento, como explica o engenheiro. “Já plantamos 730 mil mudas desde o início do projeto, em 2001. Em dezembro desse ano totalizaremos 1 milhão de mudas nativas”, conta.

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